segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

bizarro e/ou triste

Ontem tava assistindo um programa no Discovery Home&Health (aliás, aparentemente toda a grife Discovery gosta especialmente de dois tipos de programa: o freak show que  exibe anomalias genéticas e o que discorre sobre teorias da conspiração envolvendo extraterrestres e a CIA) sobre "manias bizarras".

Tinha o casal do interior da Inglaterra que tem uma coleção de mais de 200 bonecas do amor (sim, daquele tipo, embora segundo o programa elas não sejam utilizadas por eles com essa finalidade). Tinha a moça americana que vive numa espécie de cápsula do tempo dos anos 50: toda a casa dela é composta por móveis e objetos da época, assim como suas roupas. Ela não ouve música produzida depois de 1959 e não tem celular - mas mora com o namorado, o que faz pensar até que ponto ela está comprometida com a ética daquela década. Tinha a outra moça americana que faz três sessões de bronzeamento artificial por dia, fora as exposições ao sol no jardim de casa. E tinha a dona de casa americana que comia detergente em pó. 

O casal que coleciona bonecas sexuais se dizia feliz com seu hobby. Assim como a moça que simula viver há 60 anos. E mesmo a menina cor de laranja do bronzeamento artificial, sabendo que sua pele vai envelhecer cedo e que pode desenvolver um câncer, é entre descrente e cínica em relação a esse futuro ("é pra isso que existem plásticas e botox", dizia). Já a mulher que comia até dez porções diárias de detergente em pó há 30 anos era infeliz. A tristeza dela ao falar disso que o canal classifica, tal como colecionismo inusitado, de "mania bizarra", era visível.

Ela psicologizou seu problema: segundo ela o hábito começou na adolescência, logo depois de ter sofrido abuso sexual. "É como se eu quisesse me limpar por dentro", explicou. Ela nunca tinha falado sobre isso pra ninguém, e quando contou o caso para a filha, na frente da câmera, pareceu ainda mais triste, e envergonhada. A equipe a levou numa cirurgiã dentista que constatou o efeito do produto de limpeza na boca da mulher: esmalte completamente destruído, dentes seriamente infeccionados. A mulher chorou porque não poderia pagar o tratamento de 15 mil dólares, a dentista se propôs a tratar tudo de graça, caso ela se comprometesse a parar com o vício. 

E daí a gente fica pensando qual é, pro mundo do entretenimento, o limite entre um hábito curioso e inofensivo e uma doença. Porque no final, na audiência, graça, repulsa e pena se confundem e dá na mesma. Se as reações se misturam e viram uma coisa só, o objeto a ser exibido também é de um tipo só. Bizarro.



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